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Filipe Consciência

Filipe Consciência

30.05.14

Moules & Beer


Filipe Consciência

 

 

O facto de adorarmos mexilhões deixou-nos extremamente entusiasmados com a notícia, no final do ano passado, de que tinha aberto em Lisboa o restaurante Moules & Beer, especialista num dos pratos mais típicos da Bélgica - mexilhões com batatas fritas. A expectativa não podia ser maior e, felizmente, não saiu defraudada.

 

 

O espaço é descontraído, amplo e bem iluminado pelas muitas clarabóias. Destaque para os catos dentro de latas de comida, e para o rolo de papel de cozinha em cima de cada mesa. Nunca tinha visto rolos de papel de cozinha nas mesas e, inicialmente, estranhei o bom gosto. Porém, ao longo da refeição, acabei por dar razão aos responsáveis do restaurante. De facto, num restaurante onde se usam as mãos para comer, guardanapos ou, neste caso, papel de cozinha, nunca é demais.

 

 

O serviço é atencioso, simpático e muito rápido. Tal como os mexilhões, que não demoraram nada a chegar à mesa. Mas, antes disso, houve ainda tempo para ser servido o couvert, composto por um bom pão acompanhado por manteiga. Pequeno ponto negativo para o facto das embalagens de manteiga virem dentro do mesmo saco onde era servido o pão. Não havia necessidade.

 

 

Quanto à especialidade do restaurante, no Moules & Beer existem diversas formas de confeção dos mexilhões, devidamente acompanhados com batatas fritas ou pasta. Desde as mais tradicionais, como Moules Meuniére ou Mediterrânicas, às mais inovadores como Moules Thai, Chili, Fraiche, Pesto, Curry ou Champignons. Sem esquecer as Moules à Bulhão Pato ou, simplesmente, cozinhadas ao vapor.

  

Perante a grande variedade disponível, a minha mulher escolheu as mais tradicionais, Meuniére (molho clássico com natas), e eu decidi fugir à tradição escolhendo as Thai (molho aromatizado com gengibre e lemon grass).

 

 

Se as da minha mulher estavam irrepreensíveis, com um delicioso molho onde molhar o pão e as batatas, as minhas Thai também estavam muito boas, mas tenho de admitir que o forte sabor a limão do molho possa não ser do agrado de todos. No meu caso gostei, mas considero que a intensidade do sabor a limão deveria ser ligeiramente reduzida. 

 

As batatas fritas estavam boas e crocantes e eram acompanhadas por um copo com maionese. A parte menos boa era que as batatas do fundo estavam demasiado salgadas.

 

Relativamente às quantidades servidas, estas são muitíssimo razoáveis.

 

De sobremesas, escolhemos uma tarte Banoffe que estava bem saborosa.

 

 

Como o nome do restaurante é Moules & Beer, não poderia passar o post sem falar das cervejas. Grande variedade de cervejas artesanais, nacionais e internacionais (Bélgica, Alemanha e Holanda), para todos os gostos e carteiras.

 

No final, e por falar em carteiras, chega a conta, que não assusta ninguém. €8,50 pelas Moules Meuniére e €9,50 pelas Moules Thai. Preços bastante razoáveis e aceitáveis para a qualidade e quantidade servida.

 

Por isto tudo, e só entre nós, temos a certeza que vamos regressar.

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29.05.14

Reservas invisíveis


Filipe Consciência

 

Conseguir uma mesa num café, ou zona de restauração, em verdadeira hora de ponta, para uma equipa de futsal, ou mesmo apenas para duas pessoas, é algo extraordinariamente difícil. Tão difícil como garantir espreguiçadeiras, umas ao lado das outras, junto a uma piscina num dia de sol.

 

Porém, para combater essa dificuldade, capaz de fazer correr os coxos, com o objetivo de chegar a uma mesa antes dos outros, foi criada a figura da reserva invisível. E em que é que consiste a reserva invisível?

 

Simples. Em primeiro lugar, escolher um dos elementos do grupo para ser o reservador. Na maioria das vezes, opta-se por escolher o mais fraco. O que é igual a dizer: aquele que se contenta com qualquer coisa que os outros escolham para ele comer; aquele com quem menos apetece falar; aquele que tem maior dificuldade locomotiva; aquele mártir que se oferece sempre para tudo; ou, na falta disto tudo, aquele que tem uma cara mais ameaçadora. Músculos também contam para esta escolha. Já a beleza não. É que quanto mais bonito for o reservador, mais pessoas vai acabar por atrair para o pé de si, e isso é tudo o que não se quer numa reserva invisível.

 

Em segundo lugar, deixar o mártir, ou reservador, sentadinho numa cadeira de uma mesa vazia, a guardar os outros dezasseis lugares vazios da mesa, enquanto o restante grupo vai, calmamente, percorrendo o menu e escolhendo a comida que querem. Com toda a calma, porque não há razões para correr (há um reservador, está tudo ok).

 

Enquanto o grupo vai escolhendo, falando entre si e esperando pela comida, o reservador vai cumprindo a missão para a qual foi escolhido. Guardar os outros dezasseis lugares vazios e ir impedindo que qualquer outra pessoa se sente nesses lugares.

 

"Está ocupado." São estas as únicas palavras que, normalmente, se ouve sair da sua boca. Repetidas incessantemente, porque o grupo demora quarenta minutos até aparecer (com sorte), mas ditas com firmeza, perante a pergunta sem sentido de quem se aproxima das mesas vazias. Que lógica é que tem chegar a uma mesa de seis lugares, com apenas uma pessoa sentada, e perguntar se a mesa está ocupada? Eu faço isso. É uma questão de boa educação. Mas contra mim escrevo. Que sentido é que isso faz? A mesa está vazia. Quer dizer, está lá um reservador, e, no seu entendimento, os outros cinco lugares estão invisivelmente reservados. Mas a verdade é que os outros cinco lugares estão vazios. E perante as palavras "Está ocupado.", dever-se-ia perguntar "Por quem?" e sentar-se imediatamente.

 

Não há cá lugar para reservas invisíveis quando não há mais lugares onde sentar. Qualquer pessoa que já tenha comida na mão, tem preferência sobre qualquer outra pessoa sem comida, que esteja simplesmente a guardar os outros lugares para colegas.

 

Ainda por cima, enquanto o reservador espera que os outros cheguem, normalmente há tempo suficiente para outros comerem naqueles lugares invisivelmente guardados, ainda antes de serem ocupados pelos reservantes invisíveis.

 

Pior do que tudo isto, é reservar uma mesa de dois lugares durante largos minutos numa zona de restauração de um centro comercial verdadeiramente apinhada, para, no fim, quando chega a sua colega que esteve, calmamente, a passear pelos restaurantes a tentar decidir o que comer, abrir a mala e retirar de lá um tupperware com comida de casa. Não só esteve a ocupar uma mesa de dois lugares durante muitos minutos, como ainda por cima não ia consumir nada comprado naquele centro.

 

Por fim, destaque especial para o outro tipo de reservas invisíveis. E estas são especialmente invisíveis - quando não há qualquer reservador físico, mas sim uma toalha, ou livro. Caso das espreguiçadeiras junto a uma piscina num dia de sol. Nada como estar num hotel, ou navio de cruzeiro, acordar especialmente cedo, reservar uma ou mais espreguiçadeiras junto à piscina com um livro, um lenço, ou uma toalha, e voltar para a cama para dormir. Ou, então, ir calmamente tomar o pequeno-almoço. Tudo enquanto as outras pessoas, que querem mesmo utilizar as espreguiçadeiras, não têm uma única vazia.

 

Só entre nós, dava vontade de pegar nos livros e toalhas e atirá-las para dentro de água, não dava?

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28.05.14

Hotel Estherea (Amesterdão)


Filipe Consciência

 

Adoro viajar. E adoro decoração de interiores. Talvez por isso, a escolha dos hotéis para as nossas viagens seja sempre um assunto muito sério. Não basta ser limpo, bem localizado e com pequeno-almoço incluído. Para mim, um bom hotel tem de ser bonito, charmoso, elegante... No fundo, aquilo que vulgarmente se designa "boutique hotel". As estrelas são um critério secundário. Claro que se o orçamento o permitir, prefiro os 5 estrelas que cumpram os restantes critérios. Para começar, escolhi um dos hotéis mais fascinantes em que já estive até hoje - o hotel Estherea em Amesterdão. Dou a mão à palmatória, porque esta escolha foi integralmente feita pelo meu maridinho, que acertou em cheio! É um 4 estrelas localizado bem no centro de Amesterdão, junto a um dos belos canais que serpenteiam a cidade, pertinho do mercado das flores (onde fui todos os dias!). 

 

 

Foi a nossa primeira viagem a Amesterdão e escolhemos o Inverno para essa primeira visita. Se bem me lembro, foi a primeira de muitas escapadelas de Inverno pela Europa que agora são praticamente obrigatórias! Sim, bem sei que para muitos parece estúpido viajar pela Europa quando faz frio, em vez de aproveitar essa época para ir apanhar sol nos trópicos... Mas há coisa mais romântica que, no fim de um dia gelado a passear de mãos dadas pelas ruas de uma bela cidade, entre visitas a museus e experiências gastronómicas várias, sentir o calor de um lobby de hotel cheio de charme?

 

 

O calor de um quarto aconchegante, com as paredes forradas de um papel luxuoso, uma casa-de-banho acolhedora e quentinha, cheia de produtos cheirosos à nossa espera? Para mim, não há praia paradisíaca que bata isto! Mas, enfim, são meras opiniões. E, posto isto, voltemos ao Estherea. Esqueçam o estereótipo de hotel a que estão habituados. Aqui não entramos num lobby moderno e avassalador, cheio de elevadores. Não, bem pelo contrário. Quando entramos, estamos em casa. E somos recebidos por um lindíssimo aquário encastrado, cheio de peixes exóticos que nadam alegremente aos olhos de todos.

 

 

E temos também uma magnífica lareira virtual que nos mostra belas chamas e nos deixa ouvir o crepitar do fogo, sem fumo e sem cheiro. Atrás de um pequeno balcão, sobre o qual repousam pequenos vasos repletos de maravilhosos e muito amarelinhos narcisos tête-à-tête, espera-nos a chave do quarto, que aqui é mesmo uma chave e não um cartão magnético. E depois temos aquele chocolatinho quente e aquelas bolachinhas caseiras que não consigo esquecer até hoje... Que conforto depois do frio lá de fora, podermos servir-nos à vontade sem qualquer custo adicional, e desfrutar de um delicioso lanchinho, muito bem sentados num confortável cadeirão numa das pequenas e acolhedoras salas do piso térreo. Inesquecível.

 

 

Depois de subirmos ao quarto, somos surpreendidos por uma área muito generosa, que além da cama de casal inclui ainda uma cama barco que faz a vez de sofá. As paredes estão totalmente forradas a papel de parede, em tons de azul e às flores, emprestando ainda mais charme a um quarto muito elegante e confortável. A casa-de-banho, de dimensões médias, tem aquele charme vintage que tem tudo a ver com o hotel e o quarto, nada a ver com o standard a que estamos acostumados. O descanso é garantido num espaço como este. E as memórias das férias são ainda melhores depois de ficarmos num sítio destes. Só entre nós, havemos de voltar...

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28.05.14

Dizem que é um pediatra polémico...


Filipe Consciência

 

No entanto, e só entre nós, acho que Carlos González é, essencialmente, um homem inteligente. E porquê? Porque consegue ser visto como o criador de uma filosofia já inventada há muito tempo, e largamente desenvolvida e defendida por tantas pessoas, conseguindo, com isso, esgotar edições de livros (não só em Espanha), dar entrevistas em todos os meios de comunicação e, consequentemente, aumentar consideravelmente a sua conta bancária, com filas de pais à porta do seu consultório.


Não acho nada disto errado. Pelo contrário. Comecei por escrever que o acho um homem inteligente. E quem me dera ter um décimo da sua astúcia para fazer o que ele fez. Já aquilo com o qual não concordo, é a filosofia que ele defende e que lhe tem dado tanto dinheiro e fama. 


Não gosto, nem nunca gostarei, de textos que recolhem frases isoladamente ditas por pessoas e, com isso, deturpam o seu verdadeiro significado. Porém, neste caso, a verdade é que Carlos González defende essencialmente:

Que as crianças devem dormir na cama dos pais, se assim quiserem;

Que não se deve bater nem castigar as crianças;

Que não se deve obrigá-las a comer, nem sequer verduras ou outros alimentos saudáveis;

Que não se deve dizer que não, mas dar amor e colo.


Claro que Carlos González, o intitulado pediatra polémico, desenvolve cada um destes temas e justifica-os, nalguns casos com alguma (muito pouca) razão. Para quem quiser, basta uma simples pesquisa na internet para ler tudo. Ou até podem juntar-se ao grupo de portugueses que aguarda, ansiosamente, pelos livros dele, que estão entretanto esgotados. No entanto, sem olhar para o resto, fará mesmo sentido tratar as crianças como adultos e não lhes dizer que não? Resultará num adulto saudável, bem educado e adaptado à sociedade?


Nalguns casos, até posso acreditar que sim. Mas será uma franja minúscula da sociedade. Este pediatra até pode ter acompanhado o crescimento de milhares de crianças nas suas consultas, mas não me conseguem convencer que é bom e correto o seguinte:


São dez da manhã de um sábado e a criança, de oito anos, está na cama dos pais, a dormir, descansadamente. Às dez e meia, ele teria aula de inglês, algo que o beneficiaria tremendamente no seu futuro pessoal e profissional. Os pais, que deixaram de ter intimidade graças ao filho sempre deitado na sua cama, tentam acordá-lo e fazer ver que já é tarde. Claro que antes de o acordarem discutiram entre eles, porque o correto seria que ele acordasse quando quisesse, e não se regulasse por despertadores. Porém, a aula de inglês é verdadeiramente importante. Até porque as notas na escola têm sido uma miséria. É que, por mais que lhe expliquem que é importante estudar, o miúdo continua a não querer saber da escola, e as negativas acumulam-se. Mas ele vai aprender com a vida, defende Carlos González.


Com muita calma, e algum medo aliado, os pais acordam o pequeno anjo, que se vira ao contrário, diz que tem sono e que não quer ir à aula de inglês. O que fazer? Recordar os ensinamentos desta filosofia e deixá-lo a dormir. Afinal, as crianças devem ser tratadas como adultos. E nós nunca iríamos obrigar um adulto a levantar-se da cama para fazer uma coisa que não queria fazer. Mesmo quando isso significava faltar às aulas, pagas com alguma dificuldade pelos pais, que só querem o melhor para o filho.


Por volta das doze horas, o pequeno anjo de oito anos decide acordar. Cheira ligeiramente mal, porque a noite foi quente e o pijama ficou todo transpirado, mas não se pode contrariá-lo e mandá-lo tomar banho. Fazem isso a um adulto? Não. O almoço é ele que escolhe. McDonald's, claro. Bic Mac, lógico. Menu gigante, evidentemente. Não vale a pena obrigar a criança a comer comida saudável. O que é que importa mais? A comida saudável que uma criança come enquanto cresce, ou a comida saudável que se come ao longo da vida? Quem pergunta é o próprio Carlos González, que aqui se esquece do que aprendeu na escola, universidade, e vida, e desvaloriza a comida saudável no crescimento de uma criança. Segundo ele, os gostos adquirem-se com a idade e a criança vai aprendendo que a comida saudável é melhor com o tempo. Claro. Quando tiver diabetes e cento e vinte quilos é que vai aprender. Mas não há problema. O importante é não dizer que não.


A roupa? Foi a que ele escolheu. Mal seria se lhe dissessem que ficava mal conjugar meias verdes com calças vermelhas e uma t-shirt amarela. Parece a bandeira de Portugal, mas talvez isso não seja mau, atendendo à proximidade do Mundial.


Depois do almoço, vão visitar os avós dele. Pequeno anjo, cheio que nem um ovo, assim que chega a casa pede chocolate, coca-cola e vinte euros. Os avós, já imbuídos nesta filosofia, apesar de não a terem utilizado quando educaram os seus nove filhos, tratam logo de atender a todos os seus pedidos. Quando chega o primo, o miúdo dá-lhe uma estalada e um murro na cara. O que fazer? Tratá-lo como adulto. Alguma vez iriam pôr um adulto de castigo? E bater numa criança? Nem pensar! Deus nos livre! Solução - ir falar com ele e perguntar-lhe porque é que ele bateu no primo. É isso que defende esta filosofia. "Bati-lhe porque ele é parvo.", resposta do miúdo, que é aceite por todos, até pelo coitado do primo, sentado a um canto com ranho a escorrer pelo nariz, de tanto chorar, e um saco de ervilhas congeladas encostado à cara esmurrada.


Regressados a casa, o pequeno texugo gordo revela estar um pouco triste. "O que é que se passa?", perguntam os pais. Se um adulto está triste, pergunta-se o que é que se passa e tenta-se ajudar. O mesmo com uma criança. "O Tozé tem um jogo novo da PlayStation e eu não..." Solução? Dar-lhe colo e muito amor e prometer-lhe o jogo para o dia seguinte. Ou até para aquela noite, se ainda houver centros comerciais abertos. E, claro, depois tem de se permitir que o miúdo jogue o jogo novo durante toda a noite, em vez de dormir.


Afinal, não se lhes pode dizer que não. Faz sentido, não faz?

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