Junto das pessoas que me rodeiam (familiares e conhecidos), contam-se pelos dedos de uma mão aqueles que sabem que, muito de vez em quando, vamos a restaurantes onde os preços são consideravelmente mais altos do que os preços "normais".
Daí que praticamente ninguém saiba que já gastámos mais de 300 euros numa refeição no Azurmendi (crítica aqui) ou que ultrapassámos os 400 euros numa refeição no Belcanto (crítica aqui). E porquê? Porque independentemente de saberem se podemos ou não pagar esses valores, seria inevitável que pensassem logo no dinheiro que tínhamos e na forma como o andávamos a gastar. Ou seja, diriam logo que estávamos ricos e andávamos a esbanjar dinheiro em restaurantes, quando é mentira tanto uma coisa como outra.
Mas e explicar isso? Não ia adiantar nada. Mas agora pensem comigo:
Cenário A - há quem almoce todos os dias da semana num restaurante. Ora acreditando que é praticamente impossível gastar menos de 8 euros por uma refeição, temos um gasto mensal de 160 euros. Se, num casal, os dois tiverem o mesmo gasto, estamos a falar de 320 euros por mês só em almoços.
Cenário B - muitos são aqueles que têm por hábito jantar fora, pelo menos, uma vez por semana e comer fora aos fins-de-semana. Imaginando o jantar em 15 euros por pessoa, mais 20 euros gastos ao fim-de-semana (no mínimo, claro), temos 140 euros por mês, que por casal dá 280 euros por mês.
Ora uma pessoa que, como eu, nunca vai comer fora ao almoço, nem jantar fora durante a semana, fica com uma "poupança" de mais de 180 euros por mês, pelo menos. O que permitiria, em teoria, usar esse dinheiro para ir a um "bom" restaurante uma vez por mês. Se não for um ou dois meses a um desses restaurantes, maior o valor para gastar.
Ou seja, os 150 euros por pessoa pagos num restaurante são iguais aos 8 euros gastos por dia em almoços. Mas é muito mais fácil criticar quem gasta 150 numa única refeição, certo?
Daí que hoje em dia sinta que não se pode dizer que se foi a um restaurante mais caro. A não ser que seja sob o anonimato de um blog ou, tal ida, seja justificada pela profissão (exemplo dos jornalistas ou críticos gastronómicos). E, mesmo assim, será difícil escapar às críticas. O que é triste, não é?
Cada um é livre de gastar o dinheiro que tem, principalmente se for dinheiro ganho honestamente. E se esse dinheiro não fizer falta para outra coisa. Sendo assim, não se pode utilizá-lo numa ida ocasional a um bom restaurante?
Se dissesse que tinha gasto €150 num bilhete para uma final de um campeonato de futebol ou num bilhete para um concerto, de certeza que já não haveria qualquer problema.