Restaurante Alma, um dos melhores do país
Filipe Consciência
O restaurante Alma, de Henrique Sá Pessoa é, na minha opinião e sem qualquer sombra de dúvida, um dos melhores restaurantes de Lisboa e Portugal. E não foi preciso ir lá quatro vezes para concluir isso, bastou a primeira. Mas nesta quarta visita, e depois de provar o novo menu (mais arrojado do que o primeiro), confirmei mais uma coisa. Este restaurante vai muito longe e Henrique Sá Pessoa confirma, a cada visita, que está no topo dos melhores Chefs nacionais. E merece esse lugar.
Só entre nós, um pequeno aparte antes de passar à refeição. Henrique Sá Pessoa não é só um excelente Chef. Das três vezes que estivemos com ele, o Chef demonstrou sempre uma enorme simpatia, atenção e humildade. Não tem vergonha ou medo de ir às mesas, não se arma em grande, não faz espetáculos, não se comporta como um ator. Henrique Sá Pessoa é simples, honesto, fala com os clientes com naturalidade, à vontade, simpatia e carinho. Descreve os pratos com satisfação, partilhando o seu amor pela arte da gastronomia, orgulhoso do que serve e convicto de que tudo está bom. E de todos os Chefs com que já falei, nunca conheci outro igual. E esta personalidade só faz com que Alma seja ainda melhor e mais especial.
Passando então à refeição, e novamente com o próprio Henrique Sá Pessoa a servir e explicar praticamente todos os pratos, começámos com o novo couvert que substituiu o fantástico couvert existente. A fasquia estava muito alta, mas Henrique Sá Pessoa não teve receio de mudar aquilo que resultava (muito) bem.
Confesso que não fiz bem o trabalho de casa e distraí-me tanto a ouvir o Chef e observar o couvert, que não apontei com exatidão o que era.
Mas posso afirmar que o crocante era delicioso, com um sabor intenso e "cabelos de velha" por cima (única coisa que memorizei...).
O gaspacho, com a frescura necessária para contrastar com o crocante, surpreendeu pelas técnicas utilizadas e resultado final - a textura era totalmente líquida, igual à água, e a cor praticamente transparente. Mas o sabor era bem complexo, com todos os sabores do gaspacho concentrados. Muito bem conseguido.
Em seguida, uma perfeita esferificação de "amêijoa à bulhão pato" com pão torrado. Absolutamente divinal.
E para terminar o couvert, um dos pratos do antigo couvert que Henrique Sá Pessoa manteve. E ainda bem que o fez. É daqueles pratos que deve permanecer durante muito tempo. Tempura de pimentos vermelhos assados para molhar num coulis também de pimentos assados. Excelente trabalho, técnica e sabor.
Apesar de parecer impossível conseguir fazer ainda melhor, Henrique Sá Pessoa voltou a surpreender com um prato extra menu. A sua versão de "gamba ao alhinho" deixou-nos K.O. Demasiado bom para descrever.
Seguiu-se o pão, agora com três variedades: pão de batata doce e milho, pão de Mafra e pão de alfarroba.
Para acompanhar, a habitual deliciosa manteiga e o azeite do Chef.
Para entrada, escolhi "Cavala, escabeche de legumes, caldo de mexilhão e percebes, alface do mar". Não só estava lindo, como os sabores eram perfeitos. Frescos e a trazer sabores e memórias do mar. A cavala estava de tal forma fantástica que não apetecia parar de comer.
Já a minha mulher optou pelo "Polvo assado, romesco, casca de batata, alcaparras, paprika fumada". E que bom que estava...
Para pratos principais:
Salmonete, caldeirada, xerém, salicórnia - Cores lindas e sabores incríveis.
Lombo de tamboril, flor de courgette, caril verde, leite de coco, camarão da costa. Um dos pratos que mais queria provar e que não desiludiu. Bem pelo contrário. Texturas diferentes e combinações de sabores e intensidades em plena harmonia.
Para sobremesa, resisti a não escolher a "bomba" e optei pela sobremesa do menu "Costa a costa" - Mar e citrinos. Pelo nome, tive algum receio que me acontecesse o mesmo que aconteceu no LOCO, mas estava bem enganado. Apesar dos nomes e ingredientes, esta é uma verdadeira sobremesa e é deliciosa.
Já a minha mulher escolheu "Manga, maracujá, coco e sésamo preto". Excelente!
Para terminar, as mignardises:
Profiterole de Alcaçuz
Pastel de nata (perfeito!)
Trufa de chocolate
Notas finais:
O serviço está cada vez melhor. Mais empregados, maior cuidado ainda no serviço, e óptimo tempo de espera ao longo da refeição. Com exceção da sobremesa, que demorou muito tempo a ser servida, em comparação com o resto do menu. Mas Henrique Sá Pessoa está no bom caminho no que toca ao serviço.
A apresentação de todos os pratos é maravilhosa. É costume dizer-se que também se come com os olhos, e no Alma ninguém sai desiludido com a beleza dos pratos.
Por fim, reitero aquilo que já aqui afirmei. Se o Alma não receber a sua primeira estrela este ano, será uma tremenda injustiça. Seja como for, para nós o Alma já tem uma estrela, e daquelas bem brilhantes.
Mais uma vez, muitos parabéns pelo excelente trabalho e obrigado por toda a atenção e simpatia.